segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Quem quer ser professor?

Postado por Infinito Particular às 16:45 0 comentários

Responda rápido: você queria que seu filho fosse professor? Porque a profissão mais linda do mundo anda tão sem crédito? A culpa também é da gente, não professores, que temos permitido e aceitado o sucateamento da educação. Não pode! Educação é base. Educação é tudo.

Minha mãe é professora, é linda, ganha pouco e é desvalorizada profissionalmente. Quando eu dizia que queria ser professora (toda criança já disse que quer ser professor) ela me desmotivava, não por não amar o que fazia, mas por me amar, amar ao ponto de não querer isso pra mim (acabei sendo jornalista, saiu do sujo pro mal lavado, mas enfim...). Porque ninguém quer ser professor? Porque professor ganhou o status social de uma formiguinha, num mundo cheio de elefantes brancos. Esse assunto é muito sério, porque a gente acaba se perdendo na exaustão dos nossos próprios empregos e sai falando por aí que professor ganha até bem, porque trabalha só meio horário, tem férias escolares... ô covardia! Acho que a gente acaba falando bobagem demais quando nosso próprio calo dói muito no fim do dia.

Mas se nosso calo tá doendo é porque a ignorância tem nos levado a loucuras; é porque um povo que não aprende na escola vai precisar apanhar da vida... Não podemos mais encher o mundo de gerações que tomam as rédeas da sociedade quando ainda está faltando tanto pedaço. Não importa onde seja a mudança, não importa por que ou para quem ela vai acontecer: se for uma mudança social vai ter que começar na escola. “Educai as crianças e não será preciso punir os adultos”. É bem isso aí.

No dia dos professores do ano passado, me lembro que eu estava escrevendo sobre a greve. A greve acabou, mas a luta continua! É sim pra lembrar do dia do professor, mas não é pra esquecer dos dias dos professores, dias sofridos de quem modela, com tão poucos recursos, o barro da sociedade. Vamos aguardar esperançosos o dia em que nossas crianças vão querer ser professores mesmo depois de crescer.

Postado por: Marcela




sábado, 15 de setembro de 2012

O trabalho que a simplicidade dá

Postado por Infinito Particular às 12:41 0 comentários

“Que ninguém se engane: só se consegue a simplicidade através de muito trabalho”. Quem disse foi Clarisse Lispector, mas eu concordo e assino em baixo. A simplicidade é difícil, difícil como tentar fazer alguma coisa exaustivamente, enquanto todos ao seu redor parecem simplesmente não entender.
Digo que a simplicidade é difícil porque tenho tentado ser simples, e posso até dizer- não por falta de modéstia, mas por alívio de estar segura disso - que tenho feito progressos brilhantes. Mas dá trabalho, eu fico cansada, suando bicas, com as mãos frias, com o rosto impávido e penso muitas vezes em desistir.  Ser simples é uma tarefa complexa; e santas sejam as controvérsias que movem esse mundo.
Porque quem não está sendo simples tem um discurso muito seguro do que é importante ou não. Um discurso persuasivo que tem resumidamente o objetivo de tentar fazer você se sentir bobo, ao ser simples. Importante, dizem, são as outras coisas, especialmente as difíceis e improváveis. Importante é o que precisa de muito dinheiro, de um stress fora do comum e de saberes fragmentados que deem uma resposta a perguntas que naturalmente nunca existiriam. Mas isso tudo é uma cilada! Só que você tem que perceber. Você tem que parar de se importar com o que as pessoas fazem ou dizem, e se preocupar só com as coisas certas. (Quem disse foi Bob Marley, e por tudo acho que você deveria dar um crédito aos conselhos dele).
Se preocupar com as coisas certas é focar não nas coisas que dão ibope, que te dão uma espécie de sentimento de autoridade, que te dão o tal do status, mas se focar nas coisas importantes, ora! Você sabe quais são. Todo mundo já soube, mas por não vigiar a simplicidade da alma como um cão guia, esqueceu.
Temos que guardar a simplicidade, cuidar dela, renovar os votos, fazê-la existir quando ninguém está vendo. É preciso não se render ao supérfalo, é preciso negá-lo por vezes. Vamos deixar as rusguinhas de lado, os tititis, os frufrus, os mimos, os nhenhenhéns, vamos negar essas atitudes pegajosas e chatas de tentar complicar o que é simples.
Temos que repetir em voz alta as grandes verdades: as pessoas são livres para gostarem do que quiserem, as coisas que te fazem felizes estão te dando um sinal explícito de por onde seguir, “uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa”(Veríssimo).
Lembre-se que quase tudo pode ser uma grande armadilha social para nos fazer trabalhar intensamente por coisas que no fundo nem mesmo queremos. Não precisamos ser tão indisponíveis, tão importantes e atarefados, as coisas são mais simples! Temos que parar de inventar moda, como diria a minha avó, saiba e simples.
E quando conhecer uma pessoa que consegue ser assim não fuja do sua responsabilidade tentando afirmar que para ela as coisas são fáceis. Ser simples dá trabalho. E é por isso que a gente deveria começar agora mesmo.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Nostalgia bateu ao meio dia.

Postado por Infinito Particular às 09:49 0 comentários
Não se explica, nem se discute. Se é possível ou não, não sei, mas hoje senti o cheiro da minha infância. Um dos sentidos que eu tenho mais aguçado é o olfato, então não há dúvida. Não sei decompô-lo por aromas. Sei que tocava Amor de Índio no meu (fone de) ouvido, enquanto eu encarava as paisagens que corriam diante da janela do ônibus. E, então, a fragrância me encontrou. Ah, que cheiro doce (sem ser enjoativo) do destino que se cumpriu. Quase que instantaneamente meus olhos se fecharam, banhados de água e de lembranças, enquanto meu coração parecia arredar tudo dentro de mim pra encontrar mais espaço dentro do peito, pra bater mais forte. 

Ah, que cheiro! Da saudade de uma época em que eu não distinguia sonhos de realidade: eu, simplesmente, acreditava. E tudo era. Eu era tudo. Era mãe de filhas que tinham quase meu tamanho, e que eram milhões de personagens ao mesmo tempo. Filhas que eu levava pra passear no balanço que até hoje balança na minha casa - pena que eu não caibo mais lá. Que comiam uma comida deliciosa, que eu passava horas cozinhando em panelas que hoje cabem na palma da minha mão. Hm. Era aventureira do pomar da minha casa, e o abacateiro que floresce até hoje (quando quer) era a majestosa arvora de uma selva que eu desvendava sem medo, com meu pai e um cajado esculpido de uma cabo velho de vassoura. Era tão grande, tão perigoso - tão gostoso. Mas meu lado capitalista falava mais alto, e eu gostava das minhas notas de brinquedo, meu dinheiro, ah. Vendia o que tinha na "vendinha", nome que batizou a despensa da minha casa e que a gente usa até hoje. A exemplo da minha mãe, eu era professora. Casa de professora, a estante é de livro (?). Eu abraçava todos, arrumava minha classe, e ensinava o pouco que eu sabia, querendo mostrar pra elas que aquilo já era muito pra mim. Às vezes, eu só ensinava meu nome pra elas, porque meu pai me ensinou a escrevê-lo antes de entrar na escola, todos os dias, um pouquinho mais, um pouquinho melhor. Eu era coreógrafa de grandes musicais. Era atriz, e tinha certeza que seria uma cantora de grande sucesso. Era autora de história de histórias em quadrinhos, da Bia12, e editora da revista Vitrine da Moda. Escrevi meu primeiro livro, Infinito, de poemas e contos que eu escrevia na escola. Guardo tudo isso até hoje. Tinha um programa matinal de receitas, porque eu já acordava cedo pra brincar - não podia perder tempo. E, assim, sem perder tempo, fiz a maior conquista da minha vida: andar de bicicleta sem rodinha. Era espiã. Era design de moda. Era pintora. Era fonoaudióloga (depois que conheci a minha, queria ser igual a ela). E era muito, muito mais.

Hoje, os brinquedos estão lá no quartinho de brinquedos ou ganharam outras casas. A música já acabou. Despertei desse sonho acordada quase perdendo o ponto pra descer do ônibus. Uma última vez, olhei pra mulher que estava usando aquela fragrância doce, deliciosa, que significa um mundo pra mim. Em silêncio, a agradeci - pela escolha do perfume e pela felicidade de hoje. Não sei qual é o nome desse aroma. Só sei que o chamo infância. Um dia talvez descubra, talvez não. Não me importa. Continuarei encantada com essa época em que eu precisava de tão pouco pra ser tudo. E rezo, todos os dias, pra que ela não se perca na minha memória.  

Hoje, o que eu preciso pra ser quase tudo, é papel e caneta. E, graças a Deus, eu tinha os dois nas mãos, no ônibus hoje ao meio dia. Quando me bateu a nostalgia.


"Todo dia é de viver, para ser o que for, e ser tudo."

quinta-feira, 26 de julho de 2012

A quem o faz com maestria.

Postado por Infinito Particular às 06:52 0 comentários

No ato corriqueiro de virar as páginas de um livro, ou de correr os olhos na crônica do dia, esconde-se um homem. Um homem que é perturbado até mesmo durante a madrugada pelas palavras. Que pontua frases, para pontuar angústias. Rasura tristezas na esperança de transformá-las em sorrisos. Que vê o mundo com elevadíssimo teor poético. Que semeia sonhos, e é paciente em esperá-los brotarem na alma dos leitores. Que impaciente por mudanças, ignora tabus. Que derrama suas ideias, sem se preocupar onde elas podem respingar. Um sujeito, às vezes dito louco, que se atreve a parafrasear a vida. Compartilha sonhos, espalha segredos, diz o que até então parecia indizível. 

Celebra possibilidades infindáveis, inimagináveis e incomparáveis (e poderia me estender por tempos nos adjetivos) apenas pela combinação de palavras. “Ai, palavras, ai palavras, que estranha potência, a vossa!” Citando Cecília Meireles, revelo-me aqui, lembrando a todos que ontem, dia 25 de julho, foi comemorado o Dia Nacional do Escritor.

Não caberiam aqui todas as atribuições que um escritor tem, por isso, nem me atrevo a dizer que o descrevi. Fiz esse texto apenas para agradecê-lo. Agradecer a todos os escritores que escreveram, nem que seja uma palavra na minha vida e me fizeram para pra pensar. Que escreveram e descreveram o que eu não consegui. Que expandiram (e continuam expandindo) minha imaginação. Porque escritor tem nas mãos o dom de manusear, parafraseando Paulo Coelho, a mais terrível e mais covarde arma de destruição: a palavra. 

Pra mim, escritor é desses sujeitos abençoados, capaz de tornar tudo que toca uma fonte de inspiração.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

No dia da amizade

Postado por Infinito Particular às 17:35 0 comentários

Fica a dica: amigo é insubstituível. Status, amores, tristeza, dinheiro de mais ou de menos... isso tudo passa. Amigo fica. Amigos vão e vem, mas ficam, sempre, de qualquer forma. A amizade é aquela coisa linda que a gente tem com outras pessoas. Aquela coisa que, ampliada e generalizada, seria tipo a utopia de sociedade em harmonia que há tanto tempo sonhamos. Como é que se faz sem um amigo? Não me lembro. Acho que nem sei. Desde sempre eu tive os meus. Tantos se foram em marés que não coincidiam mais... mas o ditado já dizia que fica o perfume nas mãos de quem oferece rosas. O perfume da amizade fica, se por um tempo você se permitiu repousar ao lado daquela pessoa e deixar falar a voz do sentimento. Aos meus amigos que já foram, quero que saibam que ainda escuto a voz do coração de vocês. A minha própria voz, ainda sabe seus nomes e seus gostos. Amigo a gente não esquece. Depois surgiram amigos que ficaram, mesmo com as marés da vida puxando a gente pra mares diferentes. É lindo um amigo que fica. É tão lindo, que amo a vida, a vida toda, com suas imperfeições e suas tempestades, só porque tenho amigos que ficam. Fiquem comigo, ok? Que assim está muito bem. Assim eu sei pra onde vou, assim eu sou sol, assim eu sinto a delícia de ser quem eu sou. Fiquem comigo, eu prometo amar vocês pra sempre, eu prometo que esse amor que eu já contei que trago não morre mais, mude o que mudar nessa trama confusa da vida. E amigos, amigos que virão, se acheguem que meus braços estão abertos, venham tranquilos que cabe mais gente no meu bem querer. O sabor de saber que você ainda vai fazer amigos. Já parou pra sentir? É uma delícia particular, é promessa de vida no meu coração. Amigos do futuro, que vocês sejam felizes desde agora, para lá na frente a gente só juntar nossa felicidades e agrupar os meus amigos com os seus amigos e fazer uma festa gigante de alegria e tempo bom! Mas se vocês vierem feridos, eu já chorei também, e sei que amizade cura. Amizade cura! Como um mantra. Como um milagre divino. Amizade cura tudo, cura até dor de amor. Porque se o amor machuca é só mais amor que cura. E a amizade é amor. É um amor que nunca morre. 

domingo, 8 de julho de 2012

Encontros e despedidas

Postado por Infinito Particular às 16:53 0 comentários
O trem que chega é o mesmo trem da partida. Ele segue, claro, as estações mudando, mas o trem é sempre aquele. Mas novo, gente! Porque em cada estação ele chega com um propósito, chega pra um alguém, chega de um jeito. Só que a história dos vagões fica, vai acumulando, com as paisagens do caminho colando na janela, um mosaico que não acaba nunca.

Acho que mineiro é muito inteligente de chamar tudo de trem. Porque tudo nessa vida é mesmo tipo um trem, que avança e vai mudando sem esquecer a viagem que já foi. Tudo é trem, já diziam os sábios mineiros, que comem quietos justamente por serem tão sábios. Estou trem. Desconfio que sempre fui, mas estou num momento importante da viagem. Vou chegar numa próxima estação... estou apitando já para anunciar a novidade, mas, olha ali a linha que não me deixa mentir meu caminho! Vim por aqui, ó! Dá pra ver onde eu passei, se você fizer o caminho inverso ainda vê um pouco da fumaça e das bagagens que eu deixei por aí. Para frente, ainda não sei não... o caminho existe, com certeza, mas só vou saber o que tem lá se eu passar por ele.Quem pode saber antes? O passeio não teria graça. A viagem segue, eu espero. Mas por enquanto vou curtindo as estações. Porque seguir só tem sentido quando eu paro para embarques e desembarques. Eu sei que tem gente que chega pra ficar, tem gente que vai pra nunca mais... tem gente que vai e quer ficar, eu queria ficar! Às vezes até dói seguir viagem... mas é assim não, é? Porque se tem uma coisa que eu gosto é poder partir sem ter planos. E melhor ainda é poder voltar quando quero.

Ah, se soubéssemos a magia do trem; deixávamos de lado os carros que simplesmente chegam, e passávamos a marcar o caminho, como João e Maria, para poder lembrar sempre. Se soubéssemos a magia dos trens embarcávamos na viagem, ao invés de ficar na estação esperando que a vida passe, por medo, medo bobo, de embarcar e ver no que dá. Se soubéssemos teríamos mais vagões, para mais gente, para mais bagagem... e mais estações, para mais desembarques, mais desapegos. Ah se a gente ouvisse o apito, se a gente sentasse na janela sem vidro fumê para curtir a paisagem... Aí eu acho que a vida seria uma senhora viagem. E não só uma plataforma de embarque e desembarque.




segunda-feira, 25 de junho de 2012

Extasia-me, Adélia.

Postado por Infinito Particular às 11:00 0 comentários

Peço licença poética à Adélia. Tentarei abreviá-la, como se fosse algo realmente possível. A verdade é que Adélia me lê, sem nem me conhecer. Encontro-me nas esquinas de seus versos, e poderia ficar ali, por horas, sentada, acompanhada do alento de suas palavras. Admira-me a capacidade de olhar e ver o óbvio que ninguém mais vê. Ver uma beleza, na certa, imprevisível. Contenta-me esse dom, sem melhores palavras, comovente. Dom que fere – num bom sentido. 

Porque poema bom, pra mim, é desses que cerro os olhos, e se abrem trincheiras jamais antes desvendadas em minha mente. Poema bom é esse que celebra a simplicidade em versos - os quais devoro - e que me abrevia em duas ou três rimas. Poema bom é esse que em que me perco na pureza dos sentimentos,  capaz de alimentar minha imaginação insaciável. 
Repito alguns versos, tão simples, mas que não abandonam minha memória.

Registro.
Visíveis no facho de ouro jorrado porta adentro,
mosquitinhos, grãos maiores de pó.
A mãe no fogão atiça as brasas
e acende na menina o nunca mais apagado na memória:
uma vez banqueteando-se, comeu feijão com arroz
mais um facho de luz. Com toda fome.
(Adélia Prado, em “Bagagem”)

 “O facho de ouro jorrado porta adentro” se faz à minha frente, em minha mente. Enquanto minhas pálpebras se fecham com força, consigo vê-la, com fome - e que fome! Fome da mãe. “A mãe no fogão atiça as brasas e acende na menina o nunca mais apagado na memória”. Fome de guardar aquele momento, tão rotineiro quanto único. Tão feijão com arroz, quanto delicioso. Não que eu não considere feijão com arroz um prato gostoso, mas a verdade é que a comida dela tinha um tempero a mais, um tempero que ninguém jamais conseguiria acertar. O tempero das histórias que empoeiravam a cozinha simples. O sabor das memórias que se faziam vivas, tão vivas, que chegavam a pulsar em seu poema. Consegue ver? Consegue ver? Não com os olhos, seu tolo!

Apenas sinta. Sinta. Continue faminto por sentir. Por poetizar o cotidiano. Por é isso que me encanta. E eu estou indo, meu trem mal chegou já está partindo. Vou espalhar essa história. Vou desfrutar de Adélia. Com toda fome. Como uma forma de agradecimento e respeito pela sua arte.

*Deixo-lhe aqui mais uma pitada:
 Verossímil
Antigamente, em maio, eu virava anjo.
A mãe me punha o vestido, as asas,
me encalcava a coroa na cabeça e encomendava:
‘canta alto, espevita as palavras bem’.
Eu levantava voo rua acima.
(Adélia Prado, em “Bagagem”)




Postado por: Jéssica.
 

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